14 Abr, 2025
Atualizado em 6 Mai, 2025
13 min de leitura
A agricultura digital emergiu como uma força essencial na transformação das práticas agrícolas tradicionais em toda a União Europeia. À medida que o setor agrícola enfrenta desafios como as mudanças climáticas, o crescimento populacional e as crescentes exigências de sustentabilidade, a integração de ferramentas agrícolas digitais tornou-se essencial.
O setor agroalimentar é um dos maiores setores econômicos da UE. Cerca de 44 milhões de empregos nos setores de processamento, varejo e alimentação dependem da agricultura, que emprega atualmente cerca de 12 milhões de agricultores. Cerca de metade do território da UE é dedicado à agricultura e abriga cerca de 20% da população do bloco. A digitalização deste setor terá um impacto considerável tanto na economia como na população da UE.
Qualquer artigo de visão geral deve começar com uma avaliação da situação atual. No entanto, na UE, onde muitos projetos, financiamentos, atividades e apoio governamental de agricultura digital estão em andamento, ainda é muito cedo para obter números precisos que descrevam seu estado real. E isso já fala muito: o processo está em andamento, mas ainda em fase de crescimento.
- Em 2023, 90,5% das famílias rurais na UE tinham acesso à internet, o que abre portas à penetração de ferramentas digitais na indústria.
- Quase metade dos países da União Europeia relatou menos de 50% de cobertura rural de redes fixas de internet com capacidade gigabit em 2022, com progresso lento. No geral, isso se traduz em apenas 41% de cobertura na UE. Esses números podem ser uma barreira à penetração de ferramentas que lidam com grandes volumes de dados, como a telemática por vídeo, que é uma parte importante das tecnologias modernas de agricultura digital.
- Com base em uma pesquisa com 250 agricultores em uma região agrícola da Itália central, 69% a 78% deles já utilizam smartphones e computadores em suas operações. Taxas de adoção tecnológica comparáveis foram encontradas entre agricultores na Alemanha e em diversos outros países.
Será que teremos uma visão mais clara do estado da transformação digital na agricultura nos próximos anos? Este artigo analisa a jornada da UE para trazer inovação a uma das indústrias mais antigas do mundo, explorando seu estado atual e resultados tangíveis.
Por que a digitalização na agricultura é importante
A FAO, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, prevê que mais de 90% da demanda global por produção de alimentos até 2050 será atendida pelo aumento da produtividade das terras aráveis atuais, que acontecerá devido a avanços da pesquisa agrícola. Implementar e transmitir esse conhecimento aos agricultores por meio de conexões bem-sucedidas entre pesquisa e extensão e do desenvolvimento de novos ecossistemas será fundamental para alcançar níveis de produção mais elevados. Mas será que a UE precisa realmente aumentar a produção de alimentos em si?
Atendendo a demanda alimentar da UE
A população da UE deverá crescer ligeiramente nos próximos cinco anos, seguido de um declínio constante até o final do século. No geral, espera-se que a produção agrícola da UE cresça mais lentamente do que antes e possa diminuir para alguns commodities até 2035.
Entretanto, outros fatores que podem causar um declínio na produção devem ser considerados. As mudanças climáticas e seus impactos sobre os principais recursos naturais representam desafios significativos para a produtividade agrícola, portanto proteger-se dos problemas climáticos e manter a produção de alimentos no nível necessário é uma questão relevante para a próxima década.
A UE não precisa aumentar sua produção alimentar, mas deve garantir a estabilidade e a resiliência face às perturbações climáticas, alavancando tecnologias digitais na agricultura
Muitos órgãos de avaliação sugerem que um hipotético evento climático extremo afetará os fornecedores globais de ração até 2035. Consequentemente, a cadeia de fornecimento de ração da UE também seria impactada, com efeitos indiretos sobre os produtores de carne do bloco, já que ele é um grande importador de ração proteica.
Melhorias na eficiência alimentar e na produtividade das culturas ricas em proteínas da UE através da introdução de práticas de agricultura digital podem aumentar a resiliência do setor de carne de todo o bloco econômico e diminuir sua dependência de ração proteica importada.
Preocupações com a sustentabilidade e o clima
A agricultura tem um impacto significativo no meio ambiente, contribuindo com cerca de 10% das emissões totais de gases do efeito estufa da UE. As emissões agrícolas provêm de diversas fontes, incluindo a produção pecuária, o cultivo de culturas e as práticas de gestão do solo. Além disso, a agricultura também contém emissões ocultas que são atribuídas a outros setores, como, por exemplo, as emissões de CO2 provenientes de combustíveis fósseis e da eletricidade utilizada em máquinas, na secagem de culturas e na fabricação de fertilizantes/pesticidas, que são contabilizadas pelo setor energético.
Bill Gates afirma que devemos migrar para uma economia de zero emissões para evitar um desastre climático, portanto, qualquer redução de emissões é bem-vinda, necessária e deve ser planejada, e a agricultura digital é a resposta para muitas perguntas na equação global de emissões.
Tendências de consumo e rastreabilidade
Os consumidores atuais da UE estão cada vez mais conscientes da origem e da segurança dos seus alimentos, o que gera uma procura significativa por transparência na cadeia de abastecimento alimentar. Os consumidores também demonstram um interesse crescente por questões éticas — como a criação de animais em liberdade, práticas de abate humanitário e conformidade religiosa (halal ou kosher, por exemplo) — o que influencia ainda mais as decisões de compra e as expectativas em termos de rastreabilidade.
Essa conscientização crescente levou a um crescimento substancial no mercado de rastreabilidade de alimentos na Europa. Em 2023, ele gerou aproximadamente US$ 4.07 bilhões em receita e projeta-se que o crescimento atinja uma taxa anual composta de 9,3% entre 2024 e 2030.
Atender a essas demandas de rastreabilidade requer inevitavelmente a adoção de tecnologias agrícolas digitais, incluindo blockchain para registros imutáveis, sensores habilitados para IoT para monitoramento em tempo real e análises impulsionadas por IA para otimização da cadeia de suprimentos, garantindo precisão e conformidade com as regulamentações de segurança alimentar.
Ferramentas e tecnologias para digitalização da agricultura
Digitalização à moda antiga: eliminando o uso de papel
Uma fazenda sem papel significa mais do que eliminar listas aleatórias de inventário ou o controle de combustível em um caderno. Também significa a ausência de faturas em papel e documentação da frota, como registros de visitas de campo e verificações de manutenção. Ela invoca registros eletrônicos de conformidade, incluindo o rastreamento do uso de pesticidas e outros produtos químicos.
Sistemas de agricultura de precisão
Drones são usados para monitorar plantações com alta precisão na agricultura digital
A agricultura de precisão utiliza tecnologias como drones, tratores guiados por GPS, sensores de solo e imagens de satélite para monitorar e gerenciar plantações com alta precisão. Essas ferramentas permitem que os agricultores apliquem insumos como água e fertilizantes precisamente onde necessário, otimizando o uso de recursos e aumentando a produtividade dos campos.
IoT e análise de dados
Atualmente, as soluções de IoT são compostas por sensores e dispositivos espalhados pelos campos agrícolas e estufas que coletam dados em tempo real sobre as condições do solo, padrões climáticos e saúde das culturas. Basicamente, ao invés de ir ao campo e medir os parâmetros do solo, um agrônomo pode receber esses valores em seu local de trabalho graças a essas ferramentas agrícolas digitais.
A análise de big data processa essas informações, fornecendo insights que direcionam práticas agrícolas e tomadas de decisão preditivas. Embora a big data possa beneficiar fazendas de todos os tamanhos, seu impacto é particularmente significativo para operações agrícolas maiores, onde o gerenciamento de grandes volumes de dados de vários campos, máquinas e logística da cadeia de suprimentos é crucial para otimizar a eficiência e reduzir custos.
Inteligência artificial
Algoritmos de IA analisam dados para prever doenças nas plantações, otimizar cronogramas de plantio, aumentar a eficiência e reduzir erros humanos.
Além das aplicações específicas da agricultura, a IA simplifica tarefas operacionais como previsão financeira, otimização da cadeia de suprimentos e trabalho administrativo. Essas áreas são cruciais para fazendas e empreendedores agrícolas, que enfrentam margens de lucro altamente sensíveis devido a flutuações de custos e condições de mercado.
Por último, mas não menos importante, uma IA multifuncional pode ser muito útil para pequenos empreendedores agrícolas que precisam gerenciar tudo sozinhos, desde o trabalho de campo até a contabilidade, a comercialização de seus produtos e o fornecimento para lojas, distribuidores ou locais de produção.
Computação em nuvem e de borda
Para fazendas menores, soluções baseadas em nuvem oferecem acesso fácil a ferramentas avançadas de análise e tomada de decisão sem uma infraestrutura local significativa. Para fazendas maiores, plataformas em nuvem permitem a integração de diversas fontes de dados, como sensores IoT, previsões meteorológicas e sistemas de gestão da cadeia de suprimentos, para otimizar operações em larga escala.
Enquanto isso, a computação de borda oferece soluções de baixa latência, processando dados localmente na fazenda, garantindo respostas rápidas a processos agrícolas críticos, como irrigação automatizada, monitoramento de gado ou diagnóstico de equipamentos em tempo real. Tudo isso é particularmente benéfico em áreas rurais com conectividade de banda larga limitada, onde a tomada de decisões em tempo real é crucial, mas o acesso à nuvem pode ser intermitente.
O papel da gestão de frotas na agricultura digital
Na agricultura moderna, tratores, colheitadeiras, veículos de irrigação e frotas de transporte desempenham um papel fundamental em todas as etapas das operações agrícolas — do plantio e colheita à distribuição. À medida que as fazendas crescem em tamanho e complexidade, a capacidade de rastrear, otimizar e automatizar as operações da frota torna-se essencial para manter a eficiência e reduzir os custos operacionais.
Esta seção explora como soluções avançadas de gestão de frotas contribuem para uma transformação digital mais ampla na agricultura, tornando as fazendas mais eficientes, sustentáveis e competitivas.
Monitoramento em tempo real e dados históricos
Como em qualquer frota, comercial ou não, a visibilidade em tempo real traz inúmeros benefícios: desde a capacidade de controlar e despachar veículos, seja para transportar colheitas ou realizar operações agrícolas, até a garantia de que o trabalho seja feito exatamente como deveria. Se um trator não chegar a uma parte do campo que deveria chegar durante o trabalho, é melhor que o supervisor seja notificado sobre isso imediatamente e avise o motorista da máquina enquanto ele ainda estiver próximo do local.
Dados históricos sobre frotas agrícolas e associadas são essenciais para a agricultura digital por vários motivos. Um deles é a redução de custos: se um caminhão volta do campo com menos combustível do que o esperado, é importante saber se isso aconteceu porque ele ficou preso na lama por uma hora e meia ou se alguém drenou um pouco de combustível do tanque.
Automação de manutenção
A agricultura depende fortemente de veículos e máquinas, muitas vezes complexos e caros, que exigem manutenção. Ter dezenas ou mesmo centenas de veículos em uma fazenda e ter alguém para monitorar as verificações feitas nas colheitadeiras ou até em um arquivo do Excel não será uma prática sustentável de 2025 em diante, por isso ferramentas para automação da manutenção são bastante úteis.
Além disso, isso se aplica não apenas para automação, mas também para o emprego de manutenção preditiva: é possível reduzir os custos de manutenção em 30 a 40% em comparação com estratégias de manutenção reativa. Em outras palavras, enviar o carro para a oficina antes que ele realmente quebre é sempre mais barato.
Eliminando o uso de papel
Um dos muitos lados da inovação digital na agricultura é a eliminação do papel
Há uma razão para este artigo apresentar duas seções com esse nome. Esta iniciativa foi amplamente adotada e está progredindo rapidamente em toda a UE. Um bom exemplo é a mudança obrigatória para e-CMRs (conhecidas como guias de remessa eletrônicas).
Os agricultores têm utilizado cada vez mais plataformas digitais para manter registros de tratamentos de culturas, manutenção de equipamentos e documentação de conformidade, reduzindo a dependência de papelada física.
Integração com software de gestão agrícola
A combinação de sistemas de gestão de frotas com plataformas de gestão agrícola permite operações sincronizadas. Uma plataforma de gestão de frotas pode, por exemplo, registrar automaticamente dados em bancos de dados de rastreamento de colheitas quando uma operação específica é realizada no campo.
O que vem depois?
O cenário de digitalização do agronegócio da UE é bastante rico, mas podemos esperar ainda mais avanços que contribuirão para o crescimento em breve. Aqui estão alguns deles.
Escalonar soluções de gestão de frotas
De acordo com relatórios recentes, espera-se que o número de sistemas de gestão de frotas ativos aumente de 16,3 milhões de unidades no final de 2023 para 27,6 milhões até 2028. É igualmente provável que esse número de adoções abranja também as frotas agrícolas. Mas isso não é tudo: à medida que as soluções de gestão de frotas evoluem, elas adotam tendências específicas e influenciam os setores em que são utilizadas, incluindo a agricultura digital.
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Previsões para o futuro
Será que esse potencial realmente impulsionará a agricultura digital nas fazendas da UE? Com certeza, sim.
O mercado de agricultura digital na UE está experimentando um crescimento significativo, o que é comprovado pelos números:
- Até 2027, estima-se que o mercado europeu de agricultura inteligente atingirá US$8,4 bilhões, mais do que dobrando seu valor de 2021.
- Aproximadamente um terço das empresas europeias adotou a IA, registrando uma taxa de crescimento de 32% em relação ao ano anterior. Se essa tendência continuar, a adoção da IA poderá contribuir com €600 bilhões em valor agregado bruto para a economia europeia até 2030, inevitavelmente adicionando empreendimentos agrícolas a esses números de adoção.
- O número de conexões ativas de IoT na agricultura digital da UE tem aumentado constantemente, de 0,51 milhão em 2016 para 2,27 milhões esperados até 2025, indicando uma crescente integração de dispositivos de IoT nas operações agrícolas.
- O mercado europeu de agricultura de precisão foi avaliado em US$2,47 bilhões em 2022 e deve atingir US$4,36 bilhões até 2027, com uma taxa de crescimento anual composta de 12,02%.
Estes e outros números indicam claramente que a digitalização da agricultura da UE está a todo vapor. Isso representa uma excelente oportunidade para o agronegócio adotar novos métodos e fortalecer sua posição no mercado, ao mesmo tempo em que cria uma demanda significativa por empresas especializadas em digitalização, gestão de frotas, IoT e soluções de conectividade.
Conclusão
Em 2025, a União Europeia (UE) é composta por 27 países-membros que abrigam coletivamente uma população de aproximadamente 450 milhões de pessoas. Na UE, o setor agrícola continua sendo um empregador significativo, representando 4,2% do emprego total.
O impacto da agricultura digital como um setor tão significativo da economia não demorará a se manifestar plenamente. Como resultado, ela remodelará as cadeias logísticas, as exportações, a produção e outros setores interconectados, impulsionando a eficiência e a inovação em todos os níveis.
No Wialon, desenvolvemos ferramentas de digitalização de frotas há mais de duas décadas. Estamos animados para explorar e contribuir para a rica estrutura da gestão de frotas que está evoluindo e se transformando.
Quer saber mais sobre como as tendências de digitalização e gestão de frotas moldam o cenário da UE, por exemplo, com a mobilidade de cidades inteligentes ou a eletrificação de frotas?
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